Londres

Fotografar em filme é se colocar em um lugar meio fora do tempo. Postar a neve em pleno verão europeu. Redescobrir o verão quando faz 10ºC em São Paulo. Resgatar memórias engavetadas de uma viagem de seis meses atrás – e ainda assim, demorar um mês inteiro pra fechar o ciclo. Desculpa. Eu queria ser mais engajada. Juro.

Mas Londres merece o esforço. Londres. A cidade de tijolinhos terracota que visitei em três dias frios, chuvosos e cinzas. Como tinha que ser. Onde, contrariando todas as expectativas, comi comidas ótimas: a clássica meat pie no pub mais simpático da cidade e o english breakfast (que não foi um breakfast mas com certeza bem english) em um café igualmente agradável. Encontrei os primos do Fofinho, um Van Gogh e uma representação meio pop art da Billie Holiday no banheiro de um bar que servia drinks em dobro. E entre esquilos, os clássicos ônibus de dois andares e livrarias gigantes – cheias de originais e traduções inesperadas para o inglês – em Londres também descobri que, embora os encontros calorosos e os bons momentos descobrindo a cerveja local na companhia de nativos (ou naturalizados, ainda que só por um momento) sejam sempre muito bem-vindos, eu gosto mesmo de viajar sozinha.

Sozinha, posso escolher não enfrentar a multidão de turistas reunida nos portões do Palácio de Buckinghan só para ver os guardas fazerem uma dancinha. Posso priorizar uma caminhada em ruas aparentemente menos importantes – e, therefore, vazias – e esperar longos minutos sob olhares de estranhamento pra fotografar uma londrina que passa de bicicleta. Posso jogar uma rota longa e potencialmente confusa no maps para chegar a um café atravessando certos lugares históricos. Ou optar por ver o Big Ben e sua torre, mas não passar pela ponte de Londres. E no fim, refazer algumas vezes o mesmo caminho sob chuva porque decidi no último minuto que precisava visitar a National Gallery.  

E nas entrelinhas do que manda o roteiro e do que de fato acontece nos momentos aborrecidos do cotidiano, penso também que posso, de certa forma, viver a cidade. Não nos elementos que se multiplicam em um imaginário cultural que parece ter saído diretamente de uma produção da BBC; mas nos prédios que fora das fotos se tornam apenas casas, às vezes com alugueis exorbitantes que encarecem toda a vida a sua volta. Nos clássicos ônibus de dois andares que não são mais do que ônibus; e circulam a cidade recolhendo passageiros cansados de um dia cheio, que talvez só queiram sentar em um pub e comer a torta do Saul sem ter que ouvi-lo explicar o que são mashed potatoes para uma turista que mal fala inglês. Num dia de sol no St. James Park, fugindo das aglomerações só para observar esquilos e patos fazerem o que esquilos e patos normalmente fazem. Ou numa noite-de-jazz-que-acaba-se-tornando-uma-noite-de-balada, que parecia o final perfeito para nossa viagem, não tivéssemos esquecido de adicionar à equação o fator voo em um aeroporto mais ou menos impregnado por um certo mau humor inglês. Nós já não somos tão jovens.

Thank you, London. It was great.

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